terça-feira, 22 de outubro de 2013

Companhia.

E na distância a gente morre um pouco a cada dia, a gente dorme para esquecer, mas esquece que no outro dia ao acordar a gente vai lembrar, porque não dá para esquecer só porque dói. Eu sinto uma falta constante, uma saudade constante e não consigo acostumar. Ao dormir a gente esquece, mas quão ruim é acordar e lembrar, quão ruim se tornaram os dias, quão frias se tornaram as noites, tudo lembra. Quão solitária se tornou a vida. Alguém chega e rouba sua paz, te enche de lembranças e vai, com se fosse fácil ver as lembranças querendo novamente voltar a ser seu cotidiano. E vemos outras pessoas fazendo o que a muito já éramos acostumados a fazer, eu vejo o seu sorriso distante e quero te tocar, seguro-me onde puder em uma vã tentativa de não ir atrás, de largar de mão, de fazer-me orgulhosa e com aquele olhar superior lhes dizer: "não sinto sua falta" quando na verdade morro todos os dias. Morro por saber que estás tão longe, que de mim se esconde e que não posso mais te ter aqui. A companhia se foi, e a única companhia que agora sobrevive aqui é a companhia de sua ausência, ela permanece, ela insiste em ficar, foi tudo o que você deixou aqui.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O que era normal.

As coisas que um dia pareciam para sempre, sempre mudam. Não havia tempo ruim para nós, nunca houve. Não havia essa de não não termos tempo um para o outro, meu tempo era todo seu e o seu todo meu. Eu era sua principal prioridade e você era, e é  o amor da minha vida. Seu sorriso todos os dias era o melhor presente que eu poderia ganhar, ter seu corpo próximo ao meu todos os dias, sentir seu cheiro quando encostava o rosto frio na cavidade entre o ombro e seu pescoço, sentia você estremecer, e eu inspirava forte tentando guardar para sempre a sensação. Quando deitávamos na cama ainda fria do dia vazio, a noite era nossa, a gente esquentava e a noite rendia. Meu corpo, seu corpo, sacudiam juntos nos espasmos do nosso riso fácil. Encaixe de mãos, mãos no cabelo, boca com boca, você falava levinho no meu ouvindo e uma onda de arrepios tomavam conta de mim e você sorria. Janela aberta e o vento frio entrava, você me abraçava mais forte e encostava seus lábios grandes e frios de leve em minha testa, eu fechava os olhos e pedia a Deus de todo coração para sempre tê-lo assim. Dias ruins, seguia o conhecido caminho do alívio, coração na boca e a saudade já apertava, eu sabia que quando te visse tudo passaria. Empurrava a porta você estava no chuveiro, sentava de mansinho na sua cama, mesmo eu não fazendo alarde você sempre sabia que eu estava ali. Você saía do banheiro com sua cueca sempre sexy e sorria, se jogava na cama com o corpo frio e me abraçava, só o toque do seu corpo mudava todo o meu humor, toda a pressão, o peso do dia sumia apenas com um toque seu. E a gente deitava se pegava e se apegava. Nunca vão haver palavras que sejam suficientes para explicar como se tornaram frios os dias sem você, como a vida perdeu a graça, como as ruas de um dia para outro ficaram vazias, como as segundas feiras passaram do meu dia favorito da semana para o meu maior tormento. Não há como explicar como esse lugar se tornou apenas mais um lugar, com uma única diferença, nossas lembranças moram aqui. Elas moram na esquina que você disse que eu estava linda, moram na pequena casa beira-rio que era onde passávamos a maior parte do nosso tempo, no açai da esquina, na escola, no banco que hoje está tão vazio, não importa o lugar sempre haverão lembranças. Têm dias que engulo a saudade, têm dias que a saudade me engole. Não é fácil sobreviver assim, não é fácil mudar de um dia para o outro e ser obrigada a viver todo santo dia com a ausência de alguém que era sua constante presença, não é mesmo. O tempo não para, as lembranças não passam, e cada vez que a lembrança vem é um pedaço do meu coração que fica.