quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sugadores de alma...

Era bom sonhar com o amor de um vampiro, acreditar que a sensação de ter meu sangue sendo absorvido para alimentá-lo seria a coisa mais romântica do mundo; meu sangue, alimentando o amor da minha vida...

Eu encontrei o amor... Não um vampiro, claro, mas encontrei um anjo, lindo, que chegou à minha vida banhando-me com sua luz e trazendo sua paz ao meu coração, envolvendo-me

cada vez mais com seus carinhos, encantos, com o calor das suas palavras e seu sorriso inocente

Entreguei-me tão abertamente ao amor deste anjo que sequer fui capaz de perceber minha própria luz sendo drenada, pouco a pouco, até chegar ao ponto em que só me restou uma réstia do que já tive dentro de mim. O anjo, enfim, era um vampiro de alma

Então minha vida deixou de ter sentido, e o sangue que sempre sonhei alimentar um vampiro que fosse o meu amor, decidi jogar fora; a navalha cortou fundo o meu pulso, senti um frêmito percorrendo meu corpo...

A água do chuveiro ajudou a escoar o sangue. Não demorou nada para que a mancha escarlate se espalhasse pelo piso branco.

Lágrimas de angústia brotaram de meus olhos, não uma angústia pelo fim da minha vida, mas pela dor de não ter vivido um amor verdadeiro

Senti muito frio, e a fraqueza que rapidamente se apoderou de mim fez-me deslizar com as costas nuas pela parede do boxe. Acho que estava arrependida, não tenho certeza, e quando minha visão começou a turvar, ele surgiu à porta do banheiro... Talvez ele tenha sido atraído pelo cheiro do sangue, ou, quem sabe, pudesse ser apenas alguma alucinação antes do fim: mas não, ele estava ali, um vampiro de verdade

Lembro-me da dor de seus caninos rasgando ainda mais o meu pulso. Eu não tinha forças para contestar, só podia vê-lo sugando o que me restava de sangue, até desfalecer e sentir o fogo ardendo em minhas veias...

Aquele vampiro me resgatou dos braços da Morte e trouxe um novo significado para minha existência. Presenteou-me com a eternidade, com uma “vida” de insaciável desejo por sangue.

Sim, quero beber o sangue de todos que cruzarem meu caminho, há maldade em mim suficiente para isso, mas caçar... Ah, sim, eu vou caçar, mas somente os anjos, não para beber-lhes o sangue, não... O sangue dos anjos eu usarei em desperdício, apenas para o prazer de nele banhar-me.





 Gleide Athayde



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